domingo, 2 de outubro de 2011

Resolução para o Exame de Qualificação Discente do PPGCR-UEPA

Texto integral
  

CHAMADA PARA CONCESSÃO DE BOLSA DA CAPES‏ ATÉ O DIA DE OUTUBRO DE 2011

Prezados/as alunos e alunas do PPGCR-UEPA,

O PPGCR-UEPA torna pública a CHAMADA para a solicitação e concessão de 2 (duas) bolsas de mestrado da CAPES. Os/as interessados/das deverão proceder da seguinte forma:

  1. Encaminhar ao Mestrado em Ciências da Religião a solicitação de bolsa através de requerimento protocolado junto ao Protocolo Central da UEPA, localizado na Reitoria;
  2. Anexar ao pedido: cópia do projeto de pesquisa desenvolvido junto ao PPGCR;
  3. Declaração de que aceita dedicar-se integralmente as atividades do programa;
  4. Declaração de que não possui nenhum vínculo empregatício (público ou privado);
  5. Declaração de que não se encontra aposentado ou em situação similar;
  6. Declaração de que não usufrui de auxílios, bolsas ou similares de agências de fomentos à pesquisa nacional, estrangeira ou da UEPA;
  7. Declaração de que conhece o inteiro teor da Resolução Nº 01/2011, do PPGCR/UEPA;
  8. Carta de recomendação do orientador à concessão da bolsa.

As solicitações deverão ser encaminhadas até o dia 06/10/2011, às 14h, próxima quinta-feira. Não serão consideradas as solicitações encaminhadas fora do prazo. O resultado será divulgado no dia 11/10. Segue, em anexo a esta mensagem, cópia do Resolução Nº 01/2011, do PPGCR-UEPA.

OBS.: O Protocolo Central da UEPA funciona diariamente até às 14h.

Atenciosamente,

Prof. Dr. Douglas Rodrigues da Conceição
Coordenador do PPGCR-UEPA
Portaria n. 049-2011 - CCSE-UEPA



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Resolução para concessão das bolsas aos discentes do PPGCR-UEPA
(Texto integral)




terça-feira, 20 de setembro de 2011

ELE ESTEVE NO MEIO DE NÓS

UMA SEMANA INESQUECÍVEL COM ANTONIO CARLOS MAGALHÃES
quarta-feira, 21/09/2011 – 00h19
por Marcel Franco

O Prof. Dr. Antonio Carlos de Melo Magalhães, docente do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade, da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, ministrou para os mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade do Estado do Pará, a disciplina de “Teorias e Métodos dos Estudos da Religião”, no período de 12 a 15 de setembro de 2011, nos turnos da manhã e da tarde.

Durante as sessões, Prof. Antônio propiciou aos alunos do mestrado valiosas contribuições para os estudos da religião em vários contextos culturais e ressaltou a importância da pesquisa do fenômeno religioso na Amazônia como algo capaz de renovar/inovar as Ciências da Religião no panorama mundial.

Prof. Antonio revelou importantes mecanismos de construção e observação do objeto de pesquisa nas Ciências da Religião, revolucionando, profundamente, os olhares dos discentes em torno das religiões, porque elas “carregam dentro de si um grande potencial crítico de suas práticas, experiências e vivências” (MAGALHÃES, 2011).

Ao término da disciplina, no dia 15, os mestrados ofereceram um café-da-manhã ao Prof. Antonio, para agradecer a sua ilustre presença e o desenvolvimento das suas aulas no PPGCR, que mais pareciam aulas magnas. Durante o café-da-manhã, Prof. Antonio revelou que estavam comemorando o seu aniversário, causando uma enorme surpresa no alunado.

Confira os registros desse encontro memorável 














terça-feira, 23 de agosto de 2011

Palestra na FEUCABEP: Terceiro dia


FEUCABEP, 47 ANOS DE HISTÓRIA: DEBATES SOBRE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E EDUCAÇÃO
terça-feira, 21/08/2011 – 23h43
por Marcel Franco, Robson Lopes, Ronaldo Gomes e Mayra Faro

Prof.a Maria José, Prof. Douglas e Prof.a Daniela
(Foto: Marcel Franco)
No 3º dia de comemoração pelos 47 anos da Federação Espírita, Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros do Pará (FEUCABEP) foi ministrada uma palestra sobre religiões de matriz africana e educação, pelo seguinte corpo docente: Prof. Dr. Douglas da Conceição (Coordenador e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião – UEPA), Daniela Cordovil (docente do programa de pós supracitado) e pela Esp. Maria José Martins (membro da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial – COPIR). O evento teve início por volta das 9h00 e estendeu-se até as 12h00, culminando com os agradecimentos da presidência da Instituição.

O coordenador da palestra, Prof. Dr. Douglas da Conceição, fez relevantes considerações acerca da atuação das Ciências da Religião e ressaltou a importância do estudo das religiões de matriz africana na Amazônia para o desenvolvimento da educação no ensino fundamental, médio e superior. O professor afirmou que existem 17 programas de Pós-Graduação em Ciências da Religião no país, mas foi enfático ao dizer que poucos se debruçam sobre o estudo das religiões afro-brasileiras e que, ao longo da história da academia, não existe, de fato, uma contemplação adequada das expressões dessas religiões. Para Douglas o problema do ensino sobre religiões de matriz africana tem sua origem no currículo do ensino religioso.

Em seguida, Dr. Daniela reiterou a fala do coordenador da mesa, reforçando o caráter do ensino religioso de forma mais pluralizada e levantou questões importantes acerca do assunto. A professora tratou sobre a necessidade de se mostrar um conteúdo de ensino religioso numa linguagem mais compreensível, para que a sociedade possa ler-enteder os saberes vivenciados nos terreiros das religiões de matriz africana. Segundo a palestrante, o conhecimento e o respeito devem ser considerados e valorizados nos cursos de Ciências da Religião. Ela inda assegurou que no processo de ensino da religião se o profissional não coloca sua subjetividade, torna-se difícil a construção de conhecimento.       

Após a fala da Prof.ª Daniela, foi atentamente assistido o pronunciamento da Prof.ª Maria José (SEDUC/COPPIR), a qual demonstrou algumas ações da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial para implementação da lei 10.639, garantindo que cerca de 250 professores da rede pública se aperfeiçoaram para a implantação da referida lei, em 6 municípios do Estado. Maria José apontou o grande despreparo dos professores da rede estadual para o ensino religioso, principalmente sobre os conteúdos de religiões de matriz africana, falou sobre a urgência de discussão sobre essas religiões no contexto escolar e foi bastante incisiva ao tecer sobre a necessidade de uma educação das comunidades quilombolas, viando uma abordagem da religiosidade ancestral.    

Prof. Dr. Walmir e Prof.a Dra. Taissa (Foto: Marcel Franco)
Foram discutidas as temáticas entre os palestrantes e expectadores, dos quais destacamos a presença dos Professores Marize Duarte (PPGCR-UEPA), Walmir (Babalorixá da nação Ketu) e Miguel Santa Brígida Jr. (Escola de teatro da UFPA). Sem dúvida, todos os diálogos foram importantes para a compreensão do papel das religiões afro-brasileiras na escola e, que, segundo o Prof. Dr. Pai Walmir, é muito necessário quebrar os paradigmas, os preconceitos, sem se preocupar se vai ferir ou não a pertença religiosa do individuo aprendiz, uma vez que o Estado é laico. O sacerdote ainda reiterou que a África não é sinonímia de pobreza, miséria, mas de riqueza cultural, religiosa, muito próxima à cultura brasileira.

O prof. Douglas arrematou os discursos afirmando que é necessário dar conta do porquê (do sentido) do ensino da religião na escola, que o espaço pleno da democracia é o espaço dos conflitos, mas tais conflitos devem ser ponderados e medidos, sobretudo, quando se tratarem sobre as religiões. Ainda no discurso do docente, ficou bem nítido que a SEDUC precisa ter consciência do ensino religioso, uma vez que os Poderes Públicos ainda não se deram conta sobre a importância desse estudo no âmbito escolar.

Por fim, os debates foram encerraram-se nos discursos da Presidente da FEUCABEP, Mãe Emília, e do seu vice, Pai Daniel, os quais se predispuseram a colaborar e dialogar com o governo, a sociedade e com outras entidades religiosas para a construção de um ensino religioso democrático em nosso Estado, que venha a contemplar não só o ensino sobre a cristandade, mas também considere a compreensão do universo religioso africano na Amazônia.    

Prof.a Dra. Daniela, Mãe Emília, Pai Daniel (Foto: Marcel Franco)

OUTROS CLIQUES DO EVENTO
(para melhor resolução, clique nas imagens)

 Palestrantes e público-espectador

 Espectadores

A presidente da FEUCABEP com alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião - UEPA

domingo, 21 de agosto de 2011

Abertura festiva dos 47 anos da Federação

TAMBOR DE EXÚ MARCA A ABERTURA DOS 47 ANOS DA FEUCABEP
domingo, 21/08/2011 – 22h28
por Marcel Franco

 Rito solene no Salão de festa da FEUCABEP no dia 20/08/2011 (Foto: Marcel Franco)  

A Federação Espírita, Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros do Pará, FEUCABEP, realizou neste último sábado (dia 30/08) um Tambor de Exú, presidido pelo Pai Daniel Jeferson Rodrigues, vice-presidente da entidade, iniciando, assim, a programação cultural-religiosa em homenagem ao Jubileu de Jaspe da Federação (47 anos), que foi fundada no dia 26 de agosto de 1964.

O tambor teve início às 18h00 e contou a participação de religiosos dos cultos afro-brasileiros, além de expectantes convidados. Apesar da incessante chuva no fim da tarde, o ritual fluiu conforme era previsto. Deu-se, primeiramente, a chamada de caboclos e, por volta das 20h00, ocorreu a “virada para Exú”.

A solenidade contou com a presença dos alunos da Universidade do Estado do Pará, dos quais se destacam os graduandos do Curso de Licenciatura Plena em Ciências da Religião e o mestrando e representante discente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Prof. Marcel Franco.

Prof. João Simões e a Cabocla Jarina, incorporada no Pai 
Benjamin (Foto: Marcel Franco)

Outra figuras ilustres compareceram para prestigiar o Tambor, como a Prof.ª Msc. Anaíza Vergolino-Henry, docente da UFPA e sócia benemérita da FEUCABEP, e o Prof. Msc. João Simões Cardoso Filho, professor adjunto da UFPA e doutorando em Ciências Sociais – Antropologia, pela referida IES.

Prof.ª Anaíza Vergolino,  Prof. João  Simões,  Cabocla Jarina (incorporada no Pai Benjamin) e Cabocla Mariana. (Foto: Marcel Franco)


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Programação cultural-religiosa da FEUCABEP



FEUCABEP, 47 anos de História
Programação Cultural-Religiosa

LOCAL: SEDE DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA, UMBANDISTA E DOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS DO ESTADO DO PARÁ (FEUCABEP)
Endereço: Trav. Enéas Pinheiro, nº 697, entre Marquês e Pedro Miranda, bairro da Pedreira - Belém - PAFone: 91-32764036

AGOSTO
20 (sábado) – 18:00 h. Abertura: TAMBOR DE EXÚ.
                          Dirigente: Pai Daniel Jeferson Rodrigues (Vice-Presidente da FEUCABEP).
22 (2ª feira) – AGENDA CULTURAL-RELIGIOSA.
·         09:00 h. – Abertura: Momento religioso FEUCABEP em prece.
     Mestre de Cerimônia: Mameto Kátia Hadad.

·         10:00 h. – Conferência: “FEUCABEP, 47 anos de História”.
Conferencista: Anaíza Vergolino (Antropóloga, Professora/ UFPa, Sócia     Benemérita da  FEUCABEP).
                 
·         16:00/ 18:00 h. – Cineclube. Filme: “Um Dia Qualquer”.
    18 h. Roda de conversa.
   Coordenação: Prof. Dr. Arthur Leandro Moraes (Tata Kinamboji/ Cineclube     Nangetu).

23 (3ª feira)
·         09:00 h. – Palestra: Religiões de Matriz – Africana e Educação.
Expositora:
Profª Dra Daniela Cordovil Correa dos Santos. (Antropóloga, Professora PPGCR/ UEPA).
Profª. Especialista Maria José Moraes Martins (Secretaria de  Estado de Educação/ Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial- COPIR).
Coordenador: Prof. Dr. Douglas Rodrigues da Conceição - Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião/ Universidade do Estado do Pará (UEPA).

·          16:00/ 18:00 h. – Cineclube. Documentário: “Umbanda, Disappearing Worlds”.
    18 h. Roda de conversa.
Coordenação: Prof. Dr. Arthur Leandro Moraes (Tata Kinamboji/ Cineclube                               Nangetu).                                                                                                             

24 (4ª feira)
·         09:00 h. – Mesa-Redonda: Intolerância Religiosa.
Participantes: INTECAB, AFAIA, ACAOÃ, Instituto Nagetu, OAB (seção/PA) e OUVIDORIA DO ESTADO.
Coordenação: Profª Dra. Taissa Tavernard de Luca (Antropóloga, Professora PPGCR/ UEPA).

·         16:00/ 18:00 h. – Cineclube: “A Dança das Cabaças”.
   18 h. Roda de conversa.
  Coordenação: Prof. Dr. Arthur Leandro Moraes (Tata Kinamboji/ Cineclube                                     Nangetu).  

25 (5ª feira)
·         10:00 h. – Ação Social (Parceria: FEUCABEP/ SESPA).
  - Pressão Arterial
  - Teste Diabete
·  Facilitadora: Mameto Kátia Hadad. 

·         16:00/ 18:00 h. – Cineclube. Documentário: “A Descoberta da Amazônia pelos Turcos
                  Encantados”.
    18 h. Roda de conversa.
Coordenação: Prof. Dr. Arthur Leandro Moraes (Tata Kinamboji/ Cineclube                                Nangetu).  

·         19:00 h. – Peça Teatral. Emy: A Concepção Yorubana do Universo.
    Coordenação: Edson Silva Barbosa (Babá Edson Kantendê/ AFAIA). 

26 (6ª feira)
·         17:00 h. – MAGNA ASSEMBLÉIA GERAL pelos 47 anos de Fundação da FEUCABEP.
19 h. – Coquetel Festivo.
20 h. – Encerramento: TAMBOR DA UMBANDA.
Dirigente: Pai Marcelo Ricardo Soares Machado (Presidente do Conselho Religioso da FEUCABEP).

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Artigo sobre experiência docente e abordagens sobre o campo religioso


TRADIÇÕES RELIGIOSAS E ATITUDES ANTI-CIENTÍFICAS:
REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DOCENTE*

RELIGIOUS TRADITIONS AND ANTI-SCIENTIFIC ATTITUDES:
REFLECTIONS ON A TEACHING EXPERIENCE

LAS TRADICIONES RELIGIOSAS Y LA ACTITUD ANTI-CIENTÍFICA:
REFLEXIONES SOBRE UNA EXPERIENCIA EN LA ENSEÑANZA


Saulo Baptista
Doutor em Ciências da Religião,
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
Universidade do Estado do Pará
saulo.baptista@gmail.com

Resumo

O presente artigo se inspira em experiências de ensino-aprendizagem com alunos da Licenciatura Plena em Ciências da Religião da Universidade do Estado do Pará. O autor parte da premissa que não se pode deixar em segundo plano a experiência religiosa dos atores nessa aventura que é produzir Ciências da Religião, mas também não se pode vivê-la abandonando pressupostos, métodos e técnicas da produção científica. A relação do aluno com esses postulados depende da bagagem que ele traz em sua herança religiosa, quando ingressa no curso, e que reformula durante sua vida acadêmica. Nesse contexto, professores e alunos são desafiados a lidarem com a diversidade de saberes e o diálogo inter-religioso.

Palavras-chave: tradição religiosa; ciências da religião; diversidade de saberes; fundamentalismo; diálogo inter-religioso.

Abstract

This article draws on experiences of teaching and learning with students of Full Degree in Religious Sciences at the State University of Pará. The author assumes that you cannot leave in the background of the religious experience that players of this adventure whose goal is to produce Science of Religion, but you cannot live it abandoning assumptions, methods and techniques of scientific production. The relationship of the student with these postulates depends on the baggage he brings his religious heritage, when he entered the course. In this context, teachers and students are challenged to cope with the diversity of knowledge and inter-religious dialogue.

Keywords: Religious tradition; Religious Science; Diversity of knowledge; Fundamentalism; Inter-religious Dialogue.

Resumen

Este artículo se basa en las experiencias de enseñanza y aprendizaje con los estudiantes de licencia plena en Ciencias de la Religión en la Universidad del Estado de Pará. El autor asume que no se puede  dejar en un segundo plano la experiencia religiosa de los participantes de esta aventura, que es producir conocimientos en Ciencias de la Religión, pero no se pude trabajar abandonando hipótesis, métodos y técnicas de la producción científica. La relación del alumno con estos supuestos depende del bagaje que aporta su herencia religiosa, cuando entró en el curso. En este contexto, los docentes y los estudiantes tienen el reto de hacer frente a la diversidad de conocimientos y el diálogo inter-religioso.

Palabras-clave: La tradicion religiosa; La ciencia de la religión; La diversidad de conocimientos; El fundamentalismo; El diálogo interreligioso.

A apresentação do problema

            A prática docente com alunos do curso de Licenciatura Plena em Ciências da Religião da Universidade do Estado do Pará, desde 2009, abrangendo estudantes de graduação que ingressaram a partir de 2006 e duas turmas que concluíram em 2009 e 2010, permite que façamos algumas reflexões acerca da relação entre experiência religiosa e atitudes face ao estudo científico do fenômeno religioso na sociedade.
            Mais especificamente, percebe-se a influência da formação religiosa quando o aluno é confrontado com princípios e pressupostos da produção científica, em aulas e tarefas avaliativas de disciplinas como Metodologia Científica, Projeto de Pesquisa e Trabalho de Conclusão de Curso – neste caso, um acompanhamento semanal, feito para o bom andamento da pesquisa e a elaboração da monografia respectiva, ou seja, o mencionado TCC.
            A disciplina Metodologia Científica é ministrada no início da graduação e permite observar, de forma mais aguda, como o aluno lida com essa relação entre o saber religioso e o saber científico. Ao longo do curso, quando esse aluno se defronta com disciplinas que oferecem diferentes abordagens para o fenômeno religioso, tais como, Filosofia, Psicologia, Sociologia e Antropologia, para não ir mais longe, as reações indicam uma rica diversidade de percepções, de aluno para aluno, e guardam alguma relação com a bagagem de experiência religiosa que cada um carrega ou carregava, quando ingressou no curso, e como lidou com essa herança, durante o processo de aprendizagem de novos conteúdos acerca do universo religioso e sua diversidade.
            Como algo trivial na experiência humana, essas variações também guardam relação com a trajetória de vida do próprio aluno. Alguns sinalizam criar uma barreira entre o que creem e os conteúdos das disciplinas do curso. A “solução” que esses encontram parece ser a de construir departamentos estanques, sendo um para a sua fé e outro para a sua aventura acadêmica. Alguns vão mais longe e refutam o saber acadêmico, fazendo uma opção por permanecer, exclusivamente, escorados no saber religioso que receberam e que os alimenta no “mundo da vida”. Neste caso, eles percorrem as disciplinas do curso, mas internalizam insuficientemente uma abordagem crítica do fenômeno religioso.
            Temos observado que este tipo de reação é mais comum, mas não exclusivamente, em alunos que vêm de tradições pentecostais e adventistas. Não obstante, seria imprudente e leviano generalizar essa conclusão, pois há variações de comportamento entre pentecostais de diferentes confissões e entre seguidores do movimento adventista, que também não é um corpo monolítico de doutrinas, como parece ser para quem não está afeito ao seu ambiente eclesial.
            Em nossa experiência docente com esses alunos, os que reagem com mais dificuldade à aceitação das regras do jogo científico são originários das Assembleias de Deus, enquanto que os provenientes da Igreja Quadrangular são relativamente menos arredios ao saber científico. Em ambos os conjuntos, porém, as atitudes variam bastante. Curiosamente, não se verifica muita incidência desses comportamentos de rejeição a abordagens científicas do fenômeno religioso em alunos de religiões afro-brasileiras, católicos, judeus, espíritas e protestantes de tradição reformada. Todavia, fazemos ressalva que esta conclusão genérica é apenas um ponto de partida para as digressões que serão desenvolvidas na continuação deste artigo.
            Tipos de reação mais comuns se referem à dificuldade de aceitarem a interpretação de textos sagrados antigos como literatura mitológica, no caso, principalmente, dos escritos iniciais do livro de Gênesis. A abordagem pentecostal e de outros cristãos, que adotam uma hermenêutica fundamentalista, trata esses textos como descrição fiel dos fatos, refutando, portanto, teorias outras sobre a formação do universo, origem das espécies de seres vivos e das culturas e línguas. Ou seja, não há um reconhecimento acerca da especificidade e aplicabilidade de saberes, em seus campos respectivos: religioso, filosófico, científico e artístico. Querem manter o saber popular do senso comum no mesmo patamar do saber elaborado nos espaços acadêmicos, rejeitando este como antagônico à tradição religiosa que trouxeram.1 A propósito, é importante trazer para esta reflexão o que Boaventura de Sousa Santos (2010, p. 89-90) escreve:

[O senso comum é] o menor denominador comum daquilo em que um grupo ou um povo coletivamente acredita [...].  O senso comum é o modo como os grupos ou classes subordinadas vivem a sua subordinação; [...] essa vivência, [...] longe de ser meramente acomodatícia, contém sentidos de resistência que, dadas as condições, podem desenvolver-se e transformar-se em armas de luta (SANTOS, 1989, p. 35).

O senso comum faz coincidir causa e intenção; subjaz-lhe uma visão do mundo assente na ação e no princípio da criatividade e das responsabilidades individuais. O senso comum é prático e pragmático; reproduz-se colado às trajetórias e às experiências de vida de um dado grupo social e nessa correspondência se afirma de confiança e dá segurança. O senso comum é transparente e evidente; desconfia da opacidade dos objetos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva e à competência linguística. O senso comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão para além da consciência, mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas. O senso comum é indisciplinar e imetódico; não resulta de uma prática especificamente orientada para produzi-lo; reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. Por último, o senso comum é retórico e metafórico; não ensina, persuade.

            Um tipo de reação desses grupos de alunos está ligado a preconceitos contra outras experiências religiosas, preconceitos esses elevados à condição de conteúdos doutrinários, decorrentes da hermenêutica que adotam no exame de alguns textos bíblicos. Um exemplo bem comum: ao tratar de êxtase e transe, os pentecostais rotulam o que acontece em reuniões do espiritismo kardecista e nos terreiros de religiões afro-brasileiras, como experiências de fonte demoníaca, enquanto suas práticas de glossolalia eles as tratam como evidências do batismo com o Espírito Santo. Abordagens desses fenômenos, com recursos da Psicologia da Religião, por exemplo, são rejeitadas ou toleradas com suspeita. A possibilidade de comparações e pesquisas paralelas não é apreciada, por parte desses alunos. Até mesmo a simples visita a um terreiro, como prática elementar de atividade acadêmica, é repelida com veemência. Confirma-se, nessa atitude, a discriminação contra as religiões de tradição africana.
            Uma primeira aproximação possível para explicar o porquê dessas reações entre o religioso e o científico seria averiguar as características de cada tradição religiosa. Na extensão deste texto não será possível desenvolver um estudo tão amplo, porém destacaremos aspectos que julgamos essenciais. Nesta direção, verifica-se que pentecostais e adventistas têm como base de fé uma interpretação da Bíblia, que chamaremos, a priori, fundamentalista, enquanto que os alunos de outras confissões não estão apegados, tão diretamente, a uma fé cujo referencial são os textos bíblicos, lidos e assimilados, de forma quase literal e descontextualizada. Alunos católicos, que também têm a Bíblia como texto referencial, não se chocam tanto com as discussões científicas. Talvez porque o texto sagrado chega a eles sob mediação do magistério da igreja e é apenas um dos componentes formuladores da sua fé, não sendo exclusivo nem tendo o mesmo peso, tão decisivo na formação religiosa, como ocorre entre os grupos pentecostais e adventistas. Os protestantes de tradição reformada são pastoreados por profissionais que vêm de ambientes mais afeitos a discussões teológicas de cunho acadêmico, ou, pelo menos, estão cientes que há diversas formas de abordar a realidade e que os saberes se distinguem, em origens, regras e perspectivas diferentes, mas podem conviver guardados seus limites e aplicações aos respectivos campos. Reconhecem, portanto, que esses saberes não podem nem devem ser apresentados como excludentes ou exclusivos.
            Um segundo modo de abordagem, para explicar essas reações, se refere ao estudo da relação entre o objeto a ser conhecido e o instrumental a ser aplicado. Para o pentecostal e o adventista, a Bíblia contém suficientes informações que lhes permitem analisar a realidade, seja no que tange ao universo, à natureza, suas origens, funcionamento e destino, seja no que tange às sociedades, em seu passado, presente e futuro. Tudo está presente nos tesouros escondidos da Bíblia. Esses grupos orientam-se por uma filosofia da história, que oferece uma interpretação fechada para o sentido da experiência humana.
            No caso dos pentecostais, eles tomaram de empréstimo a teoria das dispensações de Cyrus Ingersol Scofield. Trata-se de uma filosofia da história que estrutura toda a existência da humanidade nas chamadas dispensações, ou grandes períodos em que se interpreta a presença humana na face da Terra. Essa é a chave de interpretação adotada por setores majoritários de pentecostais e evangélicos brasileiros para a leitura da Bíblia2. Conforme escrevemos em outro trabalho (BAPTISTA, 2000, p. 44),

O dispensacionalismo [...] concebe a história da humanidade estruturada em sete estágios, chamados dispensações. As dispensações são revelações progressivas de Deus dirigidas ao homem, às vezes a toda a humanidade, às vezes para Israel, às vezes para a Igreja. Cada dispensação serve para colocar o homem sob uma específica regra de conduta. Os estágios são os seguintes:
1ª dispensação: O homem em estado de inocência - começa em Gênesis 1: 28, com a criação do homem e vai até a sua queda, devida à desobediência do primeiro casal.
2ª dispensação: O homem em estado de consciência ou de responsabilidade moral – iniciando no versículo Gênesis 3: 7.
3ª dispensação: O governo humano, ou o homem com autoridade sobre a terra – a partir de Gênesis 8: 15.
4ª dispensação: O homem sob a promessa de Deus - Gênesis 12: 1.
5ª dispensação: O homem sob a lei - desde o versículo Êxodo 19: l.
6ª dispensação: O homem sob a graça. É a era da igreja, na qual nos encontramos, agora. A partir de Atos 2: 1.
7ª dispensação: O homem sob o reino pessoal de Cristo - a partir da volta de Cristo, que deverá acontecer segundo Apocalipse 20: 4.

            Na interpretação de Bertone de Oliveira Sousa (2010, p. 247), “a leitura da Bíblia promovida pela Assembleia de Deus no Brasil se caracteriza pelo fundamentalismo e rejeição de aspectos da modernidade que a instituição sente ameaçarem sua integridade doutrinária”; a construção da identidade coletiva dessa Igreja nega legitimidade ao discurso do outro, “rejeita o diálogo inter-religioso e assume uma postura combativa a toda teologia liberal e visão de mundo secular”.
            Após analisar textos de revistas da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, destinados a classes de jovens e adultos da Escola Bíblica Dominical, Sousa concluiu que essa denominação “abraçou o fundamentalismo”, para “reconstituir uma fé original e apoiada numa interpretação literal da Bíblia”. Ele também considera que essa construção identitária é paradoxal, visto que:

Ao mesmo tempo em que concede aos indivíduos melhoria da auto-estima e autonomia sobre antigos vícios, dando-lhe liberdade de pronunciamento nos cultos e igualdade perante os outros irmãos na fé, também os submete ao controle de uma rígida doutrina, elaborada e imposta por um corpo de teólogos especializados e os conduz a uma concepção de mundo fechada, centrada nos valores da comunidade religiosa, que, por considerarem ser de inspiração bíblica, são considerados como os únicos aceitáveis. (SOUSA, 2010, p. 247).

            Esse tipo de ética cristã, que contém ingredientes comuns a outros grupos religiosos, tais como o combate ao aborto, homossexualismo, eutanásia, materialismo, ateísmo, secularismo, seja o que esses rótulos signifiquem, expressam os já citados “sentidos de resistência que, dadas as condições, podem desenvolver-se e transformar-se em armas de luta”, instrumentos de reação às ameaças da crise de modernidade em que vivemos.
            Em março de 2005, durante as discussões do projeto de lei sobre biossegurança (PL n. 2401/2003), que abrange modificações genéticas em vegetais e experimentos com embriões humanos, a socióloga Maria das Dores Campos Machado registrou momentos de um culto da Frente Parlamentar Evangélica no plenário n. 2 da Ala Antônio Mariz da Câmara dos Deputados, que permitem observar discursos de lideranças do campo pentecostal e neopentecostal, em prédicas e orações, relacionadas, diretamente, com a utilização das ciências:

Havia dezoito deputados, dois prefeitos e quatro dezenas de funcionários acompanhando a celebração animada por um coro e o acordeão do pastor da Assembléia de Deus e deputado federal Raimundo Santos (PL/PA). O culto se iniciou com as palavras dos deputados Pedro Ribeiro (PMDB/CE), Amarildo Martins
Silva (PMDB ou PSC/TO) e Zelinda Jarske (PFL/BA). Os dois primeiros, apresentados também como pastores da Assembléia de Deus, concentraram suas falas no projeto de biossegurança a ser votado na parte da tarde e associaram as investigações genéticas às ações demoníacas e à prática do aborto. Amarildo Silva pediu a intervenção divina clamando para que “Jesus retire do projeto a proposta da pesquisa com células-tronco, uma coisa do maligno e porta aberta para a aprovação do aborto no Brasil”. Já Pedro Ribeiro argumentou “que não se pode dar vida tirando vidas”. Na mesma direção, a deputada Zelinda fez a seguinte oração: “Senhor estamos aqui para fazer pronunciamentos, elaborar e votar leis, mas estamos aqui principalmente para honrar o seu nome. Estamos aqui como seus representantes numa missão temporária, mas estamos aqui para fazer a sua vontade. Portanto, iluminai nossos colegas para que votem contra a proposta de pesquisa com a célula-tronco.”
Um quarto deputado, o Pastor assembleiano Hidecazu Takayama (PMDB/PR), assumiu o comando do culto e numa pregação de quarenta minutos lembrou aos ouvintes: “Estamos no mundo, mas não somos desse mundo e estamos reunidos aqui hoje para lembrar disso. Vários parlamentares esquecem disso e se perdem nas disputas partidárias e se escondem nas comissões. Dizem que não tem tempo de reunir conosco para orar, mas na realidade eles estão mortos, insensíveis e sem emoção. Esqueceram que nosso compromisso principal é com Jesus. E que é a vontade dele que deve nos guiar aqui. Eu também sou absolutamente contra essa proposta de que falavam nossos colegas e peço a todos os deputados presentes que digam ‘não’ hoje no plenário.”
Dos quase sessenta deputados evangélicos com mandato na 52ª legislatura, dois terços votaram contra o projeto em questão. O restante se absteve ou seguiu a orientação do Conselho de Bispos da Igreja Universal do Reino de Deus para que votassem com o governo. (CAMPOS, 2007, p. 22-23)

            O que mais causou nosso estranhamento não foi a recusa radical à lei da biossegurança, atitude compartilhada por outras tradições religiosas, mas a forma como as lideranças pentecostais em destaque demonizaram tudo aquilo que contrariava suas convicções.3 A convivência com diferentes líderes e liderados desse campo religioso tem-nos permitido afirmar que a demonização do diferente não é coisa estranha ao modo pentecostal de interpretar a sociedade.
            No caso dos adventistas, suas bases doutrinárias originaram-se dos escritos e Guilherme Miller, “que confundia as concepções do apocalipcismo com as concepções do profetismo”, segundo Edegard Silva Pereira (2005)4. Desse mesmo Miller, um leigo, fazendeiro e de confissão batista, “a IASD [Igreja Adventista do Sétimo Dia] herdou a ênfase no regresso de Cristo e a interpretação historicista do livro de Daniel, que os teólogos adventistas tornaram extensiva ao Apocalipse, sem estabelecer a necessária diferença entre os apocalipses judaico e cristão” (SILVA PEREIRA, 2005). Outra fonte doutrinária do movimento adventista é a vertente vulgar do calvinismo norte-americano, com “suas características principais: autoritária, legalista, moralista, lógica e fundada na interpretação literal da Bíblia” (SILVA PEREIRA, 2005). Completando esse conjunto de fontes, registra-se a contribuição mais conhecida e prezada pelos adventistas, que são as obras de Ellen G. White. Para Silva Pereira (2005), “as virtudes e a maior parte dos princípios religiosos defendidos por [...] White em seus escritos estão em sintonia com essas fontes. E o que fazem os teólogos adventistas é manter a confissão eclesiástica nos mesmos moldes usados pelos pioneiros”.
            Dentre as críticas que Silva Pereira (2004)5  faz ao sistema adventista, destacam-se as seguintes:

a) A mensagem adventista tem certas características que contribuem para a despolitização: promove engajamentos só do tipo individual e só destaca aspectos individuais da fé. As virtudes cristãs são apresentadas de forma abstrata — nunca se diz o que elas significam aqui e agora [6]. O cunho apocalíptico da mensagem enfatiza que o mundo é mau, está ficando cada vez pior e em breve será destruído por Deus. Remete os fiéis a um “mundo do outro mundo” que não se sabe como é nem onde está. Os adventistas encontram-se numa condição contraditória: têm de viver neste mundo, mas sua fé os aliena da realidade. Não é de se estranhar que muitos se sintam perdidos e encontrem “segurança” no isolamento, em guetos formados, geralmente, em torno de instituições educacionais adventistas.
b) A teologia adventista é uma teologia clássica, tradicional, marcada pelo idealismo pela incapacidade de perceber os dados positivos dos fatos e situações sociais. Não consegue tratar dos problemas políticos a não ser sob a forma de questões vinculadas com a ética. Mas, a perspectiva ética, por causa de sua natureza abstrata, conduz necessariamente a reflexão teológica ao moralismo. Ou seja, faz a teologia deformar-se num idealismo ético.

            Podemos juntar essas duas vertentes religiosas pelo que apresentam em comum: uma atitude fechada quanto ao conjunto de crenças que defendem, o qual lhes serve de manual de vida, regras do que é certo e errado, em todas as dimensões de suas existências, nos espaços privados e públicos. Esse tipo de teologia é refratário a outras abordagens teológicas. Em sua tese de doutorado, Antonio Gouvêa de Mendonça (1984, p. 141) elencou atitudes que identificavam, em geral, o crente fundamentalista:

a) Gosto exagerado pelas profecias, com o abandono relativo dos demais quadros básicos da fé cristã;
b) Expectação permanente da volta de Jesus Cristo;
c) Insistência em sinais;
d) Insistência em quadros referenciais de doutrinas que possam transmitir segurança, ou melhor, respeito pela reta doutrina (dogmatismo);
e) Desconfiança para com a ciência e toda forma de saber que não tenha referencial bíblico;
f) Certeza de que os que não compartilham com seus pontos de vista religiosos não são absolutamente cristãos. (grifo nosso).

            Em certo sentido, excluindo a especificidade de ter como fundamento a Bíblia e uma interpretação particular dos seus conteúdos, este tipo de comportamento, ou seja, explicar a natureza e a sociedade, em toda a extensão temporal ou atemporal, a partir de sua cosmovisão, seja o que isto queira indicar, é algo comum a muitas religiões. Isto é feito através das mitologias, como é o caso do hinduísmo, das teogonias gregas, helênicas e romanas, das tradições orais de matrizes africanas e do próprio judaísmo e cristianismo, em interpretações mais condizentes com suas formações históricas. Também é comum a certos sistemas de crença oferecer explicações da totalidade da vida mediante um construto que se utiliza de leis como o carma, metempsicoses e reencarnações, com ou sem necessidade de recorrer a mitologias, como se verifica em diversas religiões orientais e no espiritismo kardecista, respectivamente. A propósito, Émile Durkheim (1977, p. 2) descreve o ser religioso e sua natureza, da seguinte maneira:

Vê-se frequentemente a religião como uma espécie de especulação sobre um objeto determinado: acredita-se que ela consiste num sistema de idéias, exprimindo, mais ou menos adequadamente, um sistema de coisas. Mas esta característica da religião não é a ação de forças sui generis, que elevam o indivíduo acima dele mesmo, que o transportam para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência profana, e que o fazem viver uma vida muito diferente, mais elevada e mais intensa. O crente não é somente um homem que vê, que conhece coisas que o descrente ignora: é um homem que pode mais. Os fiéis podem conceber erroneamente os poderes que se atribuem, o sentido no qual ele se exerce. Mas este poder, nele mesmo, não é ilusório. É ele que permite à humanidade viver.

            Quando a religião não se preocupa tanto com explicações sobre origem e destino do universo, ou o faz assumindo que suas explicações são, de fato, mitos, seus adeptos não manifestam tantas reações às regras do método científico, em suas diferentes possibilidades. Quando a religião tem a pretensão de explicar essas questões a partir de um texto revelado e seus adeptos adotam quase literalmente essas explicações, temos, nesses ingredientes, a formação de uma barreira de compreensão aos estudos científicos. No conjunto de alunos pentecostais e adventistas, há dificuldade de percepção das diferenças que os saberes e experiências oferecem. Afinal, os leques de saberes disponíveis são corpos de busca de compreensão da realidade com perspectivas bem distintas, tais como: o senso comum, os saberes filosófico e teológico, as tradições religiosas, as artes e o conhecimento produzido pelas ciências da natureza e da condição humana em sociedade.

O que fazer diante desse desafio?

            O problema do ensino-aprendizagem das Ciências da Religião nesse contexto das diferentes tradições religiosas dos alunos de Licenciatura Plena da Universidade do Estado do Pará está apresentado e configura um grande desafio, principalmente para o corpo docente do curso, visto que não se pretende, durante o itinerário acadêmico a ser percorrido pelos alunos, ignorar ou colocar em plano secundário os conteúdos e valores da experiência religiosa que cada um deles traz e cultiva, até porque seria agressivo e criminoso, se não inútil, tentar invadir espaço tão sagrado como é a vivência de fé que cada ser humano possui. Não obstante, também persiste a consciência que não será possível ministrar os conteúdos das Ciências da Religião e muito menos será viável produzir conhecimentos nessa área se forem abandonados pressupostos, princípios, métodos e técnicas que definem o campo acadêmico. No quadro apresentado até aqui, é pertinente enfrentar a questão, tão popularizada como título de uma obra política: “o que fazer?” (LÊNIN, 2010).
            Em primeiro lugar, supõe-se que merece atenção especial trabalhar a dimensão dos saberes, apontando sua diversidade e especificidade, além de indicar que o conhecimento humano não pode ser abarcado ou limitado por uma abordagem apenas, por mais sedutora e convincente que ela possa parecer. São importantes, neste sentido, as orientações de Fernando Hernández (1998, p. 33):

O educador, de maneira geral, deve problematizar o conhecimento junto aos estudantes, e também as disciplinas, os conteúdos, os significados e os significantes. Isso implica no desenvolvimento de um esforço político, autodisciplina
e consciência crítica que lhe permita:
1. questionar toda forma de pensamento único, o que significa introduzir a suspeita sobre as representações da realidade baseadas em verdades estáveis e objetivas.
2. reconhecer, diante de qualquer fenômeno, [...] as versões da realidade que representam e as representações que tratam de influir em e desde elas.
3. incorporar uma visão crítica que leve a perguntar-se a quem beneficia essa visão dos fatos e a quem marginaliza...
4. introduzir, diante do estudo de qualquer fenômeno, opiniões diferenciadas, de maneira que o aluno comprove que a realidade se constrói desde pontos de vista diferentes, e que alguns se impõem frente a outros [não] pela força dos argumentos, e sim pelo poder de quem os estabelece [...].

            Costumam-se identificar diversos tipos de conhecimento, tais como: o intuitivo, o mítico, o saber obtido pelo senso comum ou conhecimento popular; o conhecimento religioso e o teológico; o filosófico; o artístico, o científico e o técnico. Algumas características desses saberes serão comentadas a seguir.
            A base de todo conhecimento veio do senso comum, da relação do homemcom a natureza e com seus semelhantes no convívio social. Trata-se de um saber informal, que se produz a partir de experiências do cotidiano, em forma de costumes, hábitos, tradições, valores e interditos de uma sociedade... Além de heterogêneo, o senso comum varia de cultura para cultura. As características dele, segundo Ander-Egg (1978), são: a superficialidade, o contentar-se com as aparências, tratar-se de um conhecimento subjetivo, assistemático e acrítico. Da nossa parte, cremos que essas qualidades podem apresentar-se com diferentes graus de complexidade, pois, intuitivamente, cada pessoa tem seu próprio método de observação da realidade e nem sempre se coloca de forma acrítica diante dos fatos que observa. Não obstante, o grau de sistematização e crítica aplicáveis a esse tipo de conhecimento permanece distante daquele que é reconhecido como conhecimento científico. O senso comum também é susceptível de valorações e comporta juízos de valor, em função dos ânimos e circunstâncias vivenciadas pelo produtor desse modo de conhecimento.
            O conhecimento mítico nasce de representações sobrenaturais que se propõem a dar sentido a situações e coisas, fora da racionalidade científica e filosófica. É um saber constituído de crenças fantásticas e narrativas inverossímeis, que utiliza linguagem simbólica e alimenta o imaginário social. Suas fontes, geralmente, estão perdidas no passado remoto de civilizações antigas.
            O saber religioso visa compreender o homem e o universo a partir da fé e da revelação, sendo esta resultante de uma luz divina, transcendente, vinda do exterior ou despertada interiormente, conforme as diferentes tradições doutrinárias. As religiões lidam com o sobrenatural, suas verdades são imutáveis, razão por que não costumam ou não podem ser questionadas. Trata-se, geralmente, de um saber antigo, mas que se renova em diferentes manifestações; recorre a mitos para explicar a gênese do universo, de todos os seres naturais e sobrenaturais, a origem da vida e a inevitabilidade da morte; indica a necessidade de desencarnações e reencarnações, transformações e metempsicoses, e explica a origem do bem e do mal, bem como verdades correlatas. Lida com angústias, esperanças, medos, vazios existenciais e tudo que diga respeito à existência, em seus dilemas e perplexidades. O saber religioso é um saber não experimental, não verificável nem refutável, dentro de seu campo de aplicação, porque todo ele abarca matérias de fé. Tem como premissa o divino, fonte de toda a verdade e a causa primeira de todas as coisas. O conhecimento teológico baseia-se na fé e no uso da razão. É produzido de forma dedutiva, portanto, parte do universal e de um conjunto de verdades para explicar o particular. Trata-se de um saber que estuda textos e tradições sagradas.
            O conhecimento filosófico lida com a racionalidade, enunciados logicamente encadeados, conceitos, axiomas e hipóteses. Busca a verdade, o porquê das coisas. A filosofia trabalha com a experiência humana, mas não com a experimentação material, como é comum em diversos ramos da ciência. Por este motivo, ela discute os problemas da natureza e sociedade à luz da pura razão humana. Trata-se de um conhecimento sistemático, com rigor lógico, valorativo e sempre aberto a novas contribuições. Discute questões da ética e da moral humanas.
            A ciência tem como ponto de partida a observação e prossegue mediante a formulação de hipóteses, experimentação, investigação e demonstração, segundo teorias e métodos próprios, para desvendar causas e efeitos, classificar fenômenos, estabelecer leis, confirmar, infirmar ou refazer hipóteses. É típico de alguns ramos da ciência elaborar experimentos demonstráveis e susceptíveis de serem repetidos em laboratório, mas também são formuladas e executadas experiências puramente mentais. O saber científico trata-se de um conhecimento sistemático que não recorre a hipóteses sobrenaturais. É um conhecimento sempre conjectural e sujeito a refutações, com vistas a ser superado e reformulado. Uma teoria científica resulta de uma generalização provisória de conhecimentos sistematizados, até que nova percepção da realidade, não sendo contemplada pelo enunciado da teoria em vigor, exija sua reformulação ou substituição total, a partir de um novo paradigma que se impõe. O conhecimento técnico é derivado da produção científica. Trata-se de um saber instrumental, especializado, que busca a aplicação prática e operacionalização da produção científica.
            O conhecimento artístico lida com abstrações, gostos e sentimentos, que produzem refinamentos no espírito humano, sendo este exercitado pela estética. Segundo uma fórmula clássica, “a arte é a natureza vista através de um temperamento” (Zola e Flaubert). Atribui-se a Francis Bacon a afirmação que “o principal trabalho do artista é aprofundar o mistério”.
            A apresentação dessa gama variada de saberes, com suas características e finalidades distintas, tem ajudado alunos e professores a se situarem e compreenderem que a experiência de fé tem seu lugar num universo de infinitas possibilidades de busca de entendimento entre humanos, tão semelhantes e tão diversos em suas experiências existenciais.
            Em segundo lugar, estamos convencidos de que a prática do diálogo inter-religioso constitui-se em estratégia poderosa para arejar o processo de ensino-pesquisa-extensão, com efeitos benéficos sobre nossos pensamentos e ações no cotidiano. O curso de Ciências da Religião da UEPA estreitou laços de parceria com o Comitê Interreligioso de Belém e ambas as instituições têm colhido lições edificantes, transitando da práxis para a teoria e vice-versa,
construindo, dessa maneira, um círculo virtuoso de aprendizagem.
            O discurso confessional trata a verdade religiosa como um absoluto. Em se mantendo esse campo fechado, teremos mundos estanques, isolados, que, nas melhores hipóteses, se ignorarão ou se excluirão e, nas piores, se agredirão até o limite de se destruírem mutuamente. Nas palavras do professor Sylvio Fausto Gil Filho (2005), “há necessidade da construção de um discurso que realize a ponte entre a verdade religiosa confessional absoluta e a realidade social do pluralismo religioso. Sob este aspecto a realidade religiosa plural questiona constantemente as teologias”. Ele cita Raimon Panikkar7 (1999, p. 5-11 apud GIL FILHO, 2005), que “reconhece a questão da pluralidade religiosa como impactante do pensamento teológico e especulativo contemporâneo”, oferecendo cinco formas possíveis de encarar a religião do outro:

(i) Exclusivismo: apenas uma religião é verdadeira. As outras são apenas, na melhor das hipóteses, aproximações.
(ii) Inclusivismo: todas as religiões participam de uma mesma essência e em última análise suas aproximações recaem em uma mesma verdade.
(iii) Paralelismo: toda religião é verdadeira na perspectiva de que é a verdade para os seus adeptos.
(iv) Interpenetração: o conhecimento da religião do outro pode complementar a minha própria convicção religiosa e vice-versa.
(v) Pluralismo: a verdade é plural e como tal as religiões apresentam perspectivas únicas e circunstanciais em múltiplas aproximações.

            Não temos como evitar a multiplicidade de comportamentos em uma comunidade aberta como é e deve ser uma instituição universitária, mas fica patente que o exclusivismo deve ser evitado. As outras formas de relacionamento são aceitáveis em diferentes graus e produzem resultados distintos no diálogo inter-religioso e na questão da prática religiosa frente ao aprendizado das Ciências da Religião, que é o foco principal destas reflexões.
            Em nossa experiência docente, a ênfase na diversidade de saberes e a valorização da multifacetada condição religiosa humana vêm motivando professores e alunos para uma abertura ao novo e ao diferente. É prazeroso perceber que somos todos membros de uma comunidade aprendiz, compartilhando heranças de diferentes culturas religiosas.

Notas

* Texto originalmente publicado em https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/ER/article/view/2460/2554, compilado por Marcel Franco da Silva, em 11 ago 2011.

1 Aqui vale ressalvar que reconhecemos o valor da resistência ao saber científico estabelecido, desde que essa atitude possa ser trabalhada como fator de suspeita, capaz de indicar caminhos de refutação de algumas generalizações das teorias em vigor, principalmente no campo complexo das ciências humanas. Todavia, atitudes dogmáticas, fechadas à descoberta de novos conhecimentos, não parecem trazer contribuição para o avanço das ciências.

2 A Bíblia anotada de Scofield (BÍBLIA, 1983) é uma versão do texto sagrado, com introduções aos livros e notas de rodapé elaboradas por Cyrus I. Scofield (1843-1921) e publicada, pela primeira vez, em 1909, nos Estados Unidos da América. O principal destaque das anotações e comentários de Scofield deu origem à teoria das dispensações, que ele foi buscar em John N. Darby (1800-1882), fundador da Igreja dos Irmãos, nascida do movimento denominado Irmãos de Plymouth.

3 Essa forma banalizada de grupos religiosos tratarem o outro, o diferente, como possesso de demônios, inspirou a pesquisa de dissertação de mestrado de Ivo Pedro Oro, que resultou em livro publicado pela Paulus (ORO, 1997).

4 O autor é uruguaio, graduado em teologia adventista e mestre em Ciências da Religião pela Umesp. Em sua auto-apresentação, indica uma longa convivência com a Igreja Adventista: “Foram nove anos de internato em colégios adventistas no Uruguai (quatro anos), na Argentina (três anos) e no Brasil (um ano), preparando-me para o pastorado. Depois foram mais de duas décadas exercendo a atividade pastoral na Missão Baixo Amazonas e na antiga Associação Paulista”.

5 Livro disponível na internet, que resultou da dissertação de mestrado desse cientista da religião, defendida em 1988, na Umesp.

6  Estudo nesse sentido encontra-se em: SILVA PEREIRA, Edegard. Persuasão numa Revista Religiosa. Simpósio, ASTE, p. 116-133, dez. 1982. (Informação fornecida pelo próprio autor).

7 PANNIKAR, R. Intra-religious dialogue. New York: Paulist, 1999 (apud GIL FILHO, 2005).

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